A educação – e a escola, como contexto – é permeada, dentre outras coisas, pela complexidade do ser humano no que diz respeito ao processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, compreender os atores da educação (educadores, estudantes, funcionários, famílias e a própria comunidade) como sujeitos que trazem em si dimensões biopsicossociais é buscar entendê-los em sua integralidade. Então, desenvolver de competências socioemocionais passa a ser uma necessidade e objetivo no processo educativo de crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Visando olhar e intervir diante dessa demanda, a Base Nacional Comum Curricular – documento de caráter normativo elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) – busca garantir que os estudantes tenham direito de aprender e desenvolver habilidades. As habilidades no âmbito educacional estão relacionadas a saber fazer. Junto a isso, os atributos destas habilidades estão ligados a diferentes dimensões, como cognitivas, motoras, sociais e atitudinais – tornando as habilidades essenciais para a geração de competências.
Mas, afinal, o que são habilidades socioemocionais?
Elas pertencem a um conjunto de competências que o indivíduo tem para lidar com as próprias emoções diante de si e das interações com o mundo. Nas diversas situações da vida, cada ser humano utiliza essas competências e busca integrá-las ao aprendizado de conhecer, conviver, trabalhar e ser. Isso significa que as competências socioemocionais são parte da formação integral e do desenvolvimento humano. Portanto, podem ser aprendidas, praticadas e ensinadas.
A Nova Base traz em sua organização a necessidade de trabalhar, durante toda Educação Básica, as 10 Competências Gerais. São elas: conhecimento; pensamento científico, crítico e criativo; repertório cultural; comunicação; cultura digital; trabalho e projeto de vida / autogestão; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; autonomia. Em muitas destas competências, se percebe a importância do desenvolvimento de habilidades socioemocionais para que o estudante possa chegar até o Ensino Médio competente nestes 10 itens.
A partir dos estudos do Grupo CASEL (Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning), as principais competências que permeiam o aprendizado socioemocional são o autoconhecimento, a autorregulação, a consciência social ou sociabilidade, as habilidades de relacionamento e a tomada de decisões responsáveis. A partir desses pontos, pode-se construir um aprendizado que possa guiar o sujeito por toda a vida. Nessa perspectiva, o grupo CASEL afirma que há quatro maneiras de trabalhar as competências socioemocionais no contexto escolar:
Através de currículos de intervenção direta: espaços onde são trabalhadas a dramatização, a reflexão, e onde são feitos exercícios pensando em algumas dessas competências socioemocionais;
Ter profissionais com habilidades socioemocionais bem desenvolvidas;
Através de intencionalidade curricular: incluindo, na estrutura das escolas e do currículo, o processo de construção dessas competências socioemocionais e a abertura de um espaço para que elas sejam trabalhadas;
Desenvolver um olhar para as avaliações de maneira socioemocional.
Para trabalhar as habilidades socioemocionais é fundamental construir e vivenciar com as crianças cenas e situações em que estas habilidades sejam necessárias e possam ser vistas de uma boa forma. Incluir, no processo de aprendizagem, o sentir para, então, pensar e fazer. Conhecer a si, ter consciência de suas potencialidades e limitações, encontrar sua forma de interagir com o mundo, compreender que se desenvolver como sujeito pode ser algo constante na vida... A educação – formal e informal - que busca desenvolver competências socioemocionais é uma educação que promove a construção de um mundo mais consciente e respeitoso. Por isso, trazer ao currículo o cuidado com essa dimensão humana torna o processo educativo mais integrador, repleto de sentido e organizado de forma que haja lugar para que todos possam ser quem são e se desenvolver nesse contexto. Uma educação socioemocional possibilita que a criança possa sentir-se capaz de superar desafios, promove trabalho em equipe, diminuiu incidências de violência no processo escolar e social, respeita as diferenças e multiplicidades. Para tanto, é fundamental reintegrar as facetas do ser humano que foram sendo cindidas pela modernidade. Partindo de uma concepção de desenvolvimento integral, onde há corpo, mente, emoções e propósito. Educar de forma socioemocional é construir uma educação onde cada sujeito deste cenário possa buscar por uma versão cada vez melhor de si mesmo. É uma educação que constrói autocuidado para que, então, se possa cuidar do outro e do mundo.
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